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terça-feira, 13 de julho de 2010

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

Disciplina:
Noção de ‘gente’ no pensamento social ameríndio. Leituras de etnologia comparada.

Créditos - Aula: 4 / Trabalho: 4 / Total: 8
Docente responsável: Profa. Dra. Denise Fajardo Grupioni
Período: 2o Semestre/2010
Início: 09/08

Objetivos:
Este curso tem por objetivo focar a noção de ‘gente’ sob três prismas complementares: onomásticas, coletividades e socialidades. Sob o primeiro, será abordado o modo como a noção de gente aparece nos sistemas nominativos sul-americanos compondo nomenclaturas que expressam diferentes modos de qualificar cada ‘tipo’ de gente nomeada. Sob o segundo prisma serão discutidas as propriedades das ‘coletividades’ que se constituem com base nessas práticas nominativas. Por fim, à quais concepções outras do ‘social’ a noção de ‘gente’ presente no pensamento ameríndio nos conduz, é a questão a ser tratada sob o prisma das ‘socialidades’. Para tanto este curso prevê um cronograma de atividades voltado para leituras e discussões de materiais etnográficos sob um viés comparativo.

Justificativa
Depois que a antropologia passou a problematizar seus conceitos de sociedade e de cultura como totalidades autocontidas, a etnologia americanista em particular, assumiu que noções como tribo e etnia não podem almejar a universalidade antropológica originalmente pretendida, sob o risco de reificarem unidades de análise questionáveis do ponto de vista das ontologias ameríndias. Desde então, abriu-se todo um campo de análises preocupadas em relativizar tais conceitos. Nesta linha surgiram pesquisas sobre os modos propriamente indígenas de nomear, contrastar e distinguir coletivos de ‘gente’. É deste campo que este curso se ocupa, propondo não apenas um estudo da literatura pertinente com vistas a uma abordagem comparativa, como um diálogo com as demais pesquisas atualmente em andamento, que possibilite novos avanços sobre o tema.

Conteúdo

1. As onomásticas: estudo de sistemas nominativos
O objetivo deste tópico é o de explorar a diversidade de sufixos existentes para designar ‘gente’ ou ‘povo’, e a partir daí proceder à escolha de quais conjuntos onomásticos serão discutidos comparativamente. À primeira vista, o nordeste e noroeste amazônico se mostram interessantes neste sentido. No primeiro caso, temos os sufixos caribe -yana, -yó, -koto e –so, que se encontram entre os povos de língua karib das Guianas. No segundo caso, temos os sufixos –deni, –madi e -dawa (entre povos de língua Arawa), os –dyapa (Kanamari e Katukina), e os -nawa (entre povos de língua pano), dentre outros a serem considerados. Diante desta recorrência no uso de sufixos que, de língua em língua, atravessam a Amazônia indígena e que funcionam como pluralizadores utilizados para diferenciar coletividades, a inevitável pergunta é: que relação poderia existir entre eles?

2. As coletividades: estudo de taxonomias sociais nativas
Neste tópico partiremos de estudos que tratam dos meios empregados entre os sul-ameríndios para se nomear e constituir identidades coletivas. Serão contemplados aqui estudos de sistemas nominativos indígenas por meio dos quais se qualificam e classificam diferentes tipos de ‘gente’ que não conformam exatamente aquilo que chamamos de ‘grupos’, mas que dizem respeito a outras configurações sociológicas, cuja compreensão constitui justamente um dos maiores desafios deste campo de investigação.

3. As socialidades: discussões recentes
Cada vez mais as etnografias que tratam dos nomes e das taxonomias sociais nativas têm revelado que as onomásticas indígenas e as coletividades que elas nomeiam não se adaptam bem às noções de ‘grupo’, ‘etnia’ e ‘sociedade’, mas trazem à tona outras noções culturalmente específicas que apontam para outro tipo de pensamento sobre o que é o social e sobre as relações sociais. Este descompasso entre conceitos de origens distintas tem sido fonte de muitos incômodos de ordem teórico-etnográfica por parte dos americanistas que se defrontam com essa temática e de discussões em torno das possíveis saídas. Neste tópico serão abordados trabalhos voltados para esse debate em torno de como os ameríndios pensam o social, as relações sociais e isso que chamamos de ‘sociedade’.

Avaliação
Seminário e trabalho

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